segunda-feira, 19 de setembro de 2011

1- INTRODUÇÃO
O hospital deve ser considerado insalubre por
vocação, pois concentra hospedeiros mais suscetíveis
e microorganismos mais resistentes. Os micro-organismos
contaminam artigos hospitalares, colonizam
pacientes graves e podem provocar infecções mais
difíceis de serem tratadas. O risco de contraí-las depende,
no entanto, do número e da virulência dos
microorganismos presentes e, acima de tudo, da resistência
antiinfecciosa local, sistêmica e imunológica
do paciente e da consciência do pessoal médicos e
paramédicos que atuam no estabelecimento.
O ato de lavar as mãos, antes e após examinar
pacientes, ainda não é um hábito corrente em nossos
dias, século XXI, apesar da sua importância já ter sido
demonstrada em 1847/8 por Semmelweis em Viena.
Na França, Saldmann demonstrou recentemente
que 73% das pessoas saem do banheiro com as
mãos contaminadas (90% por Escherichia coli) e que,
após duas horas 77% exibem o mesmo germe na boca!
Cerca de 50% das pessoas saem do banheiro sem
lavar as mãos, quando sozinhas, entretanto, se houver
outra pessoa no banheiro só 9 % saem sem lavar as
mãos, demonstrando que muitos conhecem os bons
hábitos higiênicos, mas, não os cumprem!!!
2- DEFINIÇÕES
Assepsia: é o conjunto de medidas que utilizamos
para impedir a penetração de microorganismos
num ambiente que logicamente não os tem, logo um
ambiente asséptico é aquele que está livre de infecção.
Antissepsia: é o conjunto de medidas propostas
para inibir o crescimento de microorganismos ou
removê-los de um determinado ambiente, podendo ou
não destruí-los e para tal fim utilizamos antissépticos
ou desinfetantes.
Degermação: Vem do inglês degermation, ou
desinquimação, e significa a diminuição do número de
microorganismos patogênicos ou não, após a escovação
da pele com água e sabão.
Fumigação: é a dispersão sob forma de partículas,
de agentes desinfectantes como gases, líquidos
ou sólidos.
Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: FUNDAMENTOS EM CLÍNICA CIRÚRGICA - 1ª Parte
2008; 41 (3): 265-73 Capítulo III
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Assepsia e antissepsia técnicas de esterilização Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 265-73.
Moriya T, Módena JLP http://www.fmrp.usp.br/revista
Desinfecção: é o processo pelo qual se destroem
particularmente os germes patogênicos e/ou
se inativa sua toxina ou se inibe o seu desenvolvimento.
Os esporos não são necessariamente destruídos.
Esterilização: é processo de destruição de todas
as formas de vida microbiana (bactérias nas formas
vegetativas e esporuladas, fungos e vírus) mediante
a aplicação de agentes físicos e ou químicos, Toda
esterilização deve ser precedida de lavagem e
enxaguadura do artigo para remoção de detritos.
Esterilizantes: são meios físicos (calor, filtração,
radiações, etc) capazes de matar os esporos e a
forma vegetativa, isto é, destruir todas as formas microscópicas
de vida.
Esterilização: o conceito de esterilização é absoluto.
O material é esterilizado ou é contaminado, não
existe meio termo.
Germicidas: são meios químicos utilizados para
destruir todas as formas microscópicas de vida e são
designados pelos sufixos "cida" ou "lise", como por
exemplo, bactericida, fungicida, virucida, bacteriólise
etc.
Na rotina, os termos antissépticos, desinfetantes
e germicidas são empregados como sinônimos, fazendo
que não haja diferenças absolutas entre desinfetantes
e antissépticos. Entretanto, caracterizamos
como antisséptico quando a empregamos em tecidos
vivo e desinfetante quando a utilizamos em objetos
inanimados.
Sanitização, neologismo do inglês sanitization,
em que emprega sanitizer, tipo particular de desinfetante
que reduz o número de bactérias contaminantes
a níveis julgados seguros para as exigências de saúde
pública.
3- ANTISSEPSIA
A descontaminação de tecidos vivos depende
da coordenação de dois processos: degermação e
antissepsia.
3.1- Degermação
É a remoção de detritos e impurezas depositados
sobre a pele. Sabões e detergentes sintéticos, graças
a sua propriedade de umidificação, penetração,
emulsificação e dispersão, removem mecanicamente
a maior parte da flora microbiana existente nas camadas
superficiais da pele, também chamada flora transitória,
mas não conseguem remover aquela que coloniza
as camadas mais profundas ou flora residente.
3.2- Antissepsia
É a destruição de micro-organismos existentes
nas camadas superficiais ou profundas da pele, mediante
a aplicação de um agente germicida de baixa
causticidade, hipoalergenico e passível de ser aplicado
em tecido vivo.
Os detergentes sintéticos não-iônicos praticamente
são destituídos de ação germicida.
Sabões e detergentes sintéticos aniônicos exercem
ação bactericida contra microorganismos muito
frágeis como o Pneumococo, porém, são inativos para
Stafilococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa e outras
bactérias Gram negativas. Consequentemente,
sabões e detergentes sintéticos (não iônicos e aniônicos)
devem ser classificados como degermantes, e
não como antissépticos.
4- ANTISSÉPTICOS
Um antisséptico adequado deve exercer a atividade
gemicida sobre a flora cutâneo-mucosa em presença
de sangue, soro, muco ou pus, sem irritar a pele
ou as mucosas. Muitos testes in vitro foram propostos
para avaliar a ação de antissepticos, mas a avaliação
definitiva desses germicidas só pode feita mediante
testes in vivo. Os agentes que melhor satisfazem
as exigências para aplicação em tecidos vivos
são os iodos, a cloro-hexidina, o álcool e o hexaclorofeno.
4.1- Para a desinfecção das mãos temos
• Soluções antissépticas com detergentes (degermantes)
e se destinam à degermação da pele, removendo
detritos e impurezas e realizando anti-sepsia parcial.
Como exemplos citam:
- Solução detergente de PVPI a 10% (1% de iodo
ativo)
- Solução detergente de clorhexidina a 4 %, com
4% de álcool etílico.
• Solução alcoólica para anti-sepsia das mãos:
- Solução de álcool iodado a 0,5 ou 1 % (álcool
etílico a 70%, com ou sem 2 % de glicerina)
- Álcool etílico a 70%, com ou sem 2% de glicerina.
4.2- Compostos de iodo
O iodo é um halogênio pouco solúvel em água,
porém facilmente solúvel em álcool e em soluções
aquosas de iodeto de potássio. O iodo livre é mais
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bactericída do que bacteriostático, e dá um poder residual
à solução. O iodo é um agente bactericida com
certa atividade esporicida. Esta, contudo, é influenciada
por condições ambientais como a quantidade de
material orgânico e o grau de desidratação. Além disso,
o iodo é fungicida e, de certo modo, ativo contra o
vírus.
O composto de iodo mais usado é o álcool iodado
a 0,5% ou 1 %. A solução de iodo deve ser preparada
semanalmente e condicionada em frasco âmbar com
tampa fechada, para evitar deteriorização e evaporação
e devidamente protegido da luz e calor.
Em resumo: os compostos iodados têm ação
bactericida, bacteriostático e residual.
4.3- Iodóforos
Shelanski & Shelanski, em 1953, descobriram
que o iodo poderia ser dissolvido em polivinilpirrolidona
(PVP), um polímero muito usado para detoxicar e prolongar
a atividade farmacológica de medicamentos e
também como expansor plasmático. Além de conservar
inalteradas as propriedades germicidas do iodo,
apresenta as seguintes vantagens sobre as soluções
alcoólicas e aquosas desse agente, pois não queima,
não mancha tecidos, raramente provoca reações alérgicas,
não interfere no metabolismo e mantém ação
germicida residual. São chamados de iodóforos e liberam
o iodo lentamente, permitindo uma estabilidade
maior para a solução.
Os compostos de iodo têm ação residual, entretanto
sua atividade é diminuída em virtude da presença
de substâncias alcalinas em matérias orgânicas.
A hipersensibilidade ao iodo contido no PVPI
tem sido descrita na relação de 2: 5000. E com os
outros compostos do tipo álcool iodado, essa relação é
maior.
O iodóforo mais usado para a anti-sepsia das
mãos é a solução degermante, de PVPI a 10% (1%
de iodo ativo), em solução etérica, que é bactericida,
tuberculicida, fungicida, virucida e tricomonicida. Essa
solução tem a seu favor, o fato de não ser irritante, ser
facilmente removível pela água e reagir com metais.
Para as feridas abertas ou mucosas, (sondagem
vesical), usamos o complexo dissolvido em solução
aquosa.
Para a anti-sepsia da pele integra antes do ato
cirúrgico, usamos o complexo dissolvido em solução
alcóolica.
Em resumo: Os iodóforos têm ação bactericida,
fungicida, virucida e ação residual.
4.4- Cloro-hexedina ou clorhexedina
A cloro-hexedina (l, 6 di 4-clorofenil-diguanidohexano)
é um germicida do grupo das
biguanidas, apresenta maior efetividade com um pH
de 5 a 8, e age melhor contra bactérias Gram-positivas
do que Gram-negativas e fungos. Tem ação imediata
e tem efeito residual. Apresenta baixo potencial
de toxicidade e de fotossensibilidade ao contato, sendo
pouco absorvida pela pele integra.
Para casos de alergia ao iodo, pode-se fazer a
degermação prévia com solução detergente de
clorohexidina a 4%.
As formulações para uso satisfatório são: solução
de gluconato de clorhexedina a 0,5%, em álcool a
70% e solução detergente não ionica de clorhexedina
a 4%, contendo 4% de álcool isopropilico ou álcool
etílico para evitar a contaminação com Proteus e
Pseudomonas.
Soluções aquosas de clorhexedina em concentrações
inferiores a 4% de álcool, com ou sem
cetrimida, são mais facilmente contamináveis sendo
considerados inadequados para uso hospitalar.
Em resumo: A ação da clorohexedina é
germicida, melhor contra Gram-positivo e tem ação
residual.
4.5- Álcool
Os álcoois etílico e isopropílico, em concentrações
de 70 a 92 % em peso (80 a 95% em volume a
25oC), exercem ação germicida quase imediata, porém
sem nenhuma ação residual e ressecam a pele
em repetidas aplicações, o que pode ser evitado adicionando
se glicerina a 2%..
O álcool etílico é bactericida, age coagulando a
proteína das bactérias, fungicida e virucida para alguns
vírus, razão pela qual é usado na composição de
outros antissépticos. A ação bactericida dos álcoois
primários está relacionada como seu peso molecular,
e pode ser aumentada através da lavagem das mãos
com água e sabão.
Em resumo: O álcool etílico é bactericida,
fungicida e virucida seletivo, sem ação residual.
4.6- Sabões e detergentes
Sabões são sais que se formam pela reação de
ácidos graxos, obtidos de gorduras vegetais e animais,
com metais ou radicais básicos (sódio, potássio, amônia
etc), são detergentes ou surfactantes aniônicos
porque agem através de moléculas de carga negativa.
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Existem vários tipos e apresentação de sabão:
em barra, pó, líquido e escamas.
Alguns sabões em barra são alcalinos (pH 9,5
a 10,5) em solução. Sua qualidade pode ser melhorada
através da adição de produtos químicos. O sabonete
é um tipo de sabão em barra (composto de sais
alcalinos de ácidos graxos) destinado à limpeza corporal,
podendo conter outros agentes tensoativos, ser
colorido e perfumado e apresentar formas e consistências
adequadas ao uso.
O sabão/sabonete antimicrobiano contém
antissépticos em concentração suficiente para ser desodorante,
sendo usado para lavar as mãos antes de
procedimentos cirúrgicos.
Os sabões têm ações detergentes, que remove
a sujidade, detritos e impurezas da pele ou outras superfícies.
Determinados sabões apresentam formação
de espuma que extrai e facilita a eliminação de partículas.
A formação de espuma representa, além da
ação citada, um componente psicológico de vital importância
para a aceitação do produto.
Preconiza-se o uso de sabão líquido no hospital
e unidades de saúde e, como segunda opção, o sabão
em barra ou sabonete, em tamanho pequeno.
O cuidado maior que se deve ter no manuseio
do sabão é evitar seu contato com a mucosa ocular,
contato prolongado com a pele, que pode produzir
irritação local.
Em resumo: Os sabões têm ação detergente
ou degermante.
4.7- Cloro e derivados clorados
O cloro é o mais potente dos germicidas que
existem. Tóxico para todo tipo de matéria viva, é utilizado
para desinfetar objetos, água de abastecimento
e, até certo ponto, tecidos. Pode ser usado sob forma
de gás ou derivado clorados que desprendem ácido
hipocloroso, que no caso é o agente germicida que
interage com a matéria orgânica e destrói tecidos normais.
A ação bacteriana do cloro é anulada pela matéria
orgânica e pH alcalino. Não é recomendado para
desinfetar instrumentos por ser corrosivo.
Em medicina o derivado clorado mais usado é
a solução de hipoclorito de sódio ou solução de Dakin,
a 0,5 %.
A solução a 5% é um potente germicida indicado
para desinfetar instrumentos e utensílios, é muito
irritante para os tecidos e não deve ser usado como
antisséptico.
Em resumo: O cloro é um potente germicida.
4.8- Compostos de prata
Sais de prata, solúveis ou coloidais, já foram
utilizados na anti-sepsia das mucosas, exercendo sua
ação através da precipitação do ion Ag.
O nitrato de prata, em aplicação tópica, é
bactericida para a maioria dos micróbios na concentração
de 1/1000 e se na concentração de 1/10.000 é
bacteriostática.
A instilação de duas gotas de uma solução a
1% de nitrato de prata no saco conjuntival dos recémnascidos
evita a oftalmia neonatal.
Em resumo: Os sais de prata são bacteriostáticos.
4.9- Desinfetantes oxidantes
Esses compostos se caracterizam pela produção
de oxigênio nascente, que é germicida.
A água oxigenada ou peróxido de hidrogênio é
o protótipo dos peróxidos, entre os quais ainda se contam
os peróxidos de sódio, zinco e benzila.
A água oxigenada se decompõe rapidamente,
e libera oxigênio quando entra em contato com a
catalase, enzima encontrada no sangue e maioria dos
tecidos. Este efeito pode ser reduzido na presença de
matéria orgânica. Útil na remoção de material infectado
através da ação mecânica do oxigênio liberado,
limpando a ferida muitas vezes melhor que solução
fisiológica ou outros desinfetantes. Não deve ser aplicada
em cavidades fechadas ou abscessos de onde o
oxigênio não possa liberar-se 3.
O permanganato de potássio é um potente
oxidante que se decompõe quando em contato com
matéria orgânica. Já teve grande uso no passado, mas
hoje está ultrapassado como antisséptico 3.
Em resumo: Os desinfetantes oxidantes têm
ação germicida.
4.10- Derivados fenólicos
Os fenóis e derivados são conhecidos de longa
data como venenos protoplasmáticos gerais, precipitando
e desnaturando as proteínas. O fenol, em soluções
diluídas, age como antisséptico e desinfetante,
com espectro anti-bacteriano que varia com a espécie
do micróbio, não sendo esporocida.
É usado principalmente para desinfetar instrumentos
e para cauterizar ulceras e áreas infectadas
da pele. O fenol, na concentração de 1/500 a 1/800, é
bacteriostático, e nas concentrações de 1/50 a 1/100
torna-se bactericida.
Os cresóis, derivados metílicos do fenol, são
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menos irritantes e menos tóxicos que o fenol e parecem
possuir ação anti-séptica mais poderosa.
Os derivados halogenados dos fenois são também
antimicrobianos mais potentes que o fenol, como
o hexilresorcinol, por exemplo.
Os derivados fenólicos são usados principalmente
para desinfetar objetos porque são cáusticos e
tóxicos para os tecidos vivos. O fenol e os cresóis não
devem ser usados para desinfetar artigos de borracha,
de plástico, ou tecidos que possam entrar em contato
com a pele, de que podem resultar queimaduras.
Atualmente não mais se usa fenol como
antisséptico ou desinfetante.
Em resumo: O derivado fenólico tem ação
bactericida e não esporocida, utilizados em instrumental.
4.11- Aldeídos
O aldeído fórmico, também chamado formaldeido,
formol, formalina ou oximetileno, resulta da oxidação
parcial do álcool metílico. Sofre ação da luz,
polimerizando e dando origem a paraformaldeído.
O formol é um líquido límpido, incolor, picante,
sabor caustico. Seus vapores são irritantes para as
mucosas (nariz, faringe, olhos etc.), que podem ser
combatidos usando-se amoníaco diluído.
É desinfetante potente, com poder de penetração
relativamente alto e baixa toxicidade, seu poder
de potente redutor, reage com substâncias orgânicas
e precipita as proteínas, germicida por excelência, age
inclusive sobre os esporos. Desnatura as proteínas,
reagindo com os grupos aminos livres, e isso faz a
transformação de toxina em toxóide ou antoxina, conservando
assim o poder de antigenicidade.
O aldeído fórmico, com sabão, forma o lisol. O
lisoformio tem na sua composição além de outros ingredientes
, o aldeído fórmico e sabão em solução a
1% a 10%.
O dialdeído fórmico ou aldeído glutárico (Cidex)
é usado em soluções aquosas a 2%, previamente
alcalinizadas, é menos irritante que o formaldeido, tem
menor índice de coagulação de proteínas, não é corrosivo,
não altera artigos de borracha, de plástico, de
metal ou os mais delicados instrumentos de corte e
instrumentos ópticos, não dissolve o cimento das lentes
dos equipamentos ópticos em exposições por períodos
curtos. É nocivo à pele, mucosa (olhos) e alimentos.
Em resumo: Os aldeídos têm ação bactericida
e esporocida.
4.12- Derivados furânicos
A nitrofurazona (furacin) tem amplo espectro
antibacteriano, interferindo no sistema enzimático dos
microorganismos pela inibição do metabolismo dos
hidratos de carbono, sendo usada apenas como tópico
no tratamento de certas infecções assestadas na pele,
feridas infectadas ou queimaduras, o uso continuo pode
provocar intolerância e sensibilização. Não afeta a
cicatrização, a fagocitose e a atividade celular e a sua
eficácia persiste na presença de sangue, pus ou exsudato,
diminui o mau cheiro e quantidade de secreção
da ferida .
Em resumo: Os derivados furanicos têm ação
bactericida.
5- TÉCNICAS DE ESTERILIZAÇÃO
Esterilização é a destruição de todos os organismos
vivos, mesmo os esporos bacterianos, de um
objeto.
Para isso dispomos de agentes físicos e químicos.
5.1- Meios de esterilização:
Físico
• Calor seco
- Estufa
- Flambagem
- Fulguração
• Calor úmido
- Fervura
- Autoclave
• Radiações
- Raios alfa
- Raios gama
- Raios x
Químico
• Desinfetantes
Para conseguir-se a esterilização, há vários fatores
importantes:
Das características dos microorganismos, o grau
de resistência das formas vegetativas; a resistência
das bactérias produtoras de esporos e o número de
microorganismos e da característica do agente empregado
para a esterilização.
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5.2- Esterilização pelo calor
A susceptibilidade dos organismos ao calor é
muito variável e dependem de alguns fatores, e dentre
eles citamos:
a) Variação individual de resistência,
b) Capacidade de formação de esporos,
c) Quantidade de água do meio,
d) ph do meio,
e) Composição do meio.
5.3- Esterilização pelo calor seco
A incineração afeta aos microorganismos de
forma muito parecida a como afeta as demais proteínas.
Os microorganismos são carbonizados ou consumidos
pelo calor (oxidação), assim, podemos usar a
chama para esterilizar (flambagem) e a eletricidade
(fulguração).
O aparelho mais comum para a esterilização
pelo calor seco é a estufa, que consiste em uma caixa
com paredes duplas, entre as quais circula ar quente,
proveniente de uma chama de gás ou de uma resistência
elétrica. A temperatura interior é controlada por
um termostato.
As estufas são usadas para esterilizar materiais
¨secos¨, como vidraria, principalmente as de precisão,
seringas, agulhas, pós, instrumentos cortantes,
gases vaselinadas, gases furacinadas, óleos, vaselina,
etc.
A esterilização acontece quando a temperatura
no interior da estufa atinge de 160 oC a 170oC, durante
2 horas, ocorrendo destruição de microorganismos,
inclusive os esporos. Deve-se salientar que a temperatura
precisa permanecer constante por todo esse
tempo, evitando-se abrir a porta da estufa antes de
vencer o tempo.
5.4- Esterilização pelo calor úmido
Podemos usar o calor das seguintes formas:
• Fervura
Foi um método correntemente usado na prática
diária, mas não oferece uma esterilização completa,
pois a temperatura máxima que pode atingir é 100oC
ao nível do mar, e sabemos que os esporos, e alguns
vírus, como o da hepatite, resistem a essa temperatura,
alguns até por 45 h. Por outro lado, a temperatura
de ebulição varia com a altitude do lugar.
• Cuidados na esterilização pela fervura
a) Devem-se eliminar as bolhas, pois estas protegem
as bactérias - no interior da bolha impera o calor
seco, e a temperatura de fervura (100oC), este
calor é insuficiente para a esterilização
b) Devem-se eliminar as substâncias gordurosas e
protéicas dos instrumentos, pois estas impedem o
contacto direto do calor úmido com as bactérias.
5.4- Esterilização pelo vapor sob pressão
(autoclave)
Age através da difusão do vapor d'água para
dentro da membrana celular (osmose), hidratando o
protoplasma celular, produzindo alterações químicas
(hidrólise) e coagulando mais facilmente o protoplasma,
sob ação do calor.
O autoclave é uma caixa metálica de paredes
duplas, delimitando assim duas câmaras; uma mais
externa que é a câmara de vapor, e uma interna, que é
a câmara de esterilização ou de pressão de vapor. A
entrada de vapor na câmara de esterilização se faz
por uma abertura posterior e superior, e a saída de
vapor se fazem por uma abertura anterior e inferior,
devido ao fato de ser o ar mais pesado que o vapor.
O vapor é admitido primeiramente na câmara
externa com o objetivo de aquecer a câmara de esterilização,
evitando assim a condensação de vapor em
suas paredes internas. Sabe-se que 1 grama de vapor
saturado sob pressão, libera 524 calorias ao se
condensar. Ao entrar em contacto com as superfícies
frias o vapor saturado se condensa imediatamente,
molhando e aquecendo o objeto, fornecendo assim dois
fatores importantes para a destruição dos micro-organismos.
O vapor d'água, ao ser admitido na câmara de
esterilização é menos denso que o ar, e portanto empurra
este para baixo, até que sai da câmara, e através
de correntes de convecção, retira todo o ar dos
interstícios dos materiais colocados na câmara. Ao
condensar-se, reduz de volume, surgindo assim áreas
de pressão negativa, que atraem novas quantidades
de vapor. Desse modo, as disposições dos materiais a
serem esterilizados dentro da autoclave devem obedecer
a certas regras, formando espaços entre eles e
facilitando o escoamento do ar e vapor, tendo-se em
mente a analogia com o escoamento de água de um
reservatório, evitando assim a formação de ¨bolsões¨
de ar seco (onde agiria apenas o calor seco, insuficiente
para esterilizar nas temperaturas atingidas habitualmente
pelo autoclave.
A quantidade efetiva de água sob a forma de
vapor dentro da câmara de pressão pode ser reduzida,
de modo que, ao retirar-se os objetos esterilizados,
estes estejam quase secos.
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A ação combinada de temperatura, pressão e
da umidade são suficientes para uma esterilização rápida,
de modo que vapor saturado a 750 mmHg e temperatura
de 121ºC são suficientes para destruir os
esporos mais resistentes, em 30 minutos. Essa é a
combinação mais usada, servindo para todos os objetos
que não estragam com a umidade e temperatura
alta como panos meios bacteriológicos, soluções salinas,
instrumentais (não os de corte), agulhas, seringas,
vidraria (não as de precisão ) etc.
Usando-se vapor saturado a 1150 mmHg e 128º
C, o tempo cai para 6 minutos, podendo se assim evitar
a ação destruidora do calor sobre panos e borracha.
Em casos de emergência, usamos durante 2
minutos a temperatura de 132ºC e 1400 mmHg.
Para testar a eficiência da esterilização em
autoclave lançamos mão de indicadores, que pode ser
tintas que mudam de cor quando submetidas a determinada
temperatura durante certo tempo, ou tiras de
papel com esporos bacterianos, que são cultivados em
caldos após serem retirados do autoclave.
Como exemplo citamos tubinho contendo ácido
benzóico mais eosina, que tem ponto de fusão de 121ºC.
Anidrido ftalico mais verde metila tem ponto de fusão
de 132ºC. Ácido salicilico mais violeta de genciana
tem ponto de fusão de 156ºC.
5.5- Bioindicadores
Podemos usar ampolas contendo 2 ml de caldo
de cultura com açúcares mais um indicador de pH e
esporos de bacilo Stearo thermophilus (espécie não
patogênica), esporo estes que morrem quando submetidos
a 121ºC por 15 minutos. Incuba-se por 24 a
48 horas a 55ºC, e se a esterilização foi suficiente a
cor violeta não se altera.
Podemos também usar cadarços embebidos
com suspensão salina de cultura de Bacilo subtilis (em
esporulação acentuada) colocados no interior de um
campo cirúrgico dobrado, que será colocado no centro
dos pacotes, caixas ou tambores. Findo o prazo de
esterilização, o cadarço é enviado para cultura no laboratório.
(o Bacilo subtilis não é patogênico e é um
dos mais resistentes ao calor)
5.6- Éter cíclico - Óxido de etileno
É um gás incolor, inflamável, tóxico, altamente
reativo, é completamente solúvel em água, álcool, éter
e muitos solventes orgânicos, borracha, couro e plásticos.
É bactericida esporicida e virucida. Eficaz em
temperatura relativamente baixa, penetra em substâncias
porosas, não corroe ou danifica materiais, age
rapidamente, removível rapidamente.
5.7- Esterilização pelo óxido de etileno
Autorizado pelo Ministério da Saúde como agente
químico para esterilização, portaria 930/1992. Necessita
de três unidades: aparelho de autoclave combinado,
gás e vapor; aparelho de comando que vai
misturar o gás, e o freon na concentração pré-estabelecida
e o aparelho aerador
5.7.1- Condições
Existem quatro condições que são primordiais
e que guardam relação entre si para que o óxido de
etileno se torne um agente esterilizante:
a) Tempo - o tempo de exposição ao gás varia de
acordo com a temperatura do aparelho,
b) Temperatura - Geralmente utiliza a temperatura de
55oC e a exposição em 2 horas. Em temperaturas
mais baixas necessitamos de exposições maiores
e vice-versa.
c) Umidade relativa - usa de 20 a 40%,
d) Concentração do gás - usa a concentração de 450
mg/L de espaço da câmara esterilizadora. Por ser
altamente inflamável quando puro, usamos misturar
com dióxido de carbono (90%) ou freon (80%).
5.7.2- Técnica
a) Preparo do material - deverão estar completamente
limpos e secos. O material que os empacota deve
ser permeável, flexível e forte para agüentar a
manipulação normal do processo de esterilização.
Usar fitas adesivas para identificação e indicadores
de óxido de etileno dentro dos pacotes.
b) Não sobrecarregar o esterilizador para evitar
bolsões isoladores e também o rompimento e abertura
dos pacotes durante o aumento de pressão da
câmara.
c) Aeração - o objetivo é ventilar para remover o gás
contido no material esterilizado e sendo executado
a 50ºC, o tempo varia de acordo com o tipo de
material, assim:
- Borracha e material plástico fino = 6 horas
- Borracha e material plástico grosso = 24 horas
- Marca passos internos = 4 dias
- Luvas, cateteres e outros materiais em invólucros
de plásticos = 7 dias
- Qualquer tubo de cirurgia cardíaca = 7 dias
272
Assepsia e antissepsia técnicas de esterilização Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (3): 265-73.
Moriya T, Módena JLP http://www.fmrp.usp.br/revista
5.7.3- Vantagens:
- É bactericida, esporocida e virucida
- Agente esterilizante em temperatura relativamente
baixa
- Facilmente removível
- Fácil de obter, armazenar e manusear
- Penetra em qualquer material permeável e
poroso
- Esteriliza uma grande variedade de instrumentos
e equipamentos sem danificar a maioria
- É método simples, eficaz econômico e seguro
- O material esterilizado pode ser estocado por
período prolongado
5.7.4- Desvantagens
Necessita de controle cuidadoso da concentração
de gás, temperatura e umidade.
A aparelhagem é cara e requer supervisão
técnica especializada.
O gás etileno possui efeito tóxico.
O processo é demorado.
A utilização do aparelho é limitada a estabelecimentos
grandes.
5.8- Flambagem
O Ministério da Saúde, através da portaria 930
de 27 de agosto de 1992, relaciona a flambagem como
meio possível de esterilização nas laboratórios de
microbiologia para a manipulação de material biológico
ou transferencia de massa bacteriana pela alça
bacteriológica e para a esterilização de agulhas, na
vacina de BCG intradérmico.
5.9- Radiação
A radiação é uma alternativa na esterilização
de artigos termossensíveis, (seringa de plástico, agulha
hipodérmicas, luvas, fios cirúrgicos), por atuar em
baixas temperaturas, é um método disponível em escala
industrial devido aos elevados custos de implantação
e controle.
Radiações ionizantes: (raios beta, gama, (cobalto),
X, alfa ). Tem boa penetrabilidade nos materiais
mesmos já empacotados o que justifica a sal comodidade.
Radiações não ionizantes: (raios ultravioleta,
ondas curtas e raios infravermelhos) devido a sua baixa
eficiência está vetado o seu uso pelo Ministério da
Saúde desde 1992.
Filtração é usada como controle ambiental, criando
áreas limpas e áreas estéreis, podendo inclusive
lançar utilizar se do fluxo laminar.
5.10- Aldeído
Agente químico autorizado pelo Ministério da
Saúde, (portaria 930/1992) .
Glutaraldeido a 2%, associada a um antioxidante,
por 8 a 12 horas, é usado para esterilizar material de
acrílica, cateteres, drenos, nylon, silicone, teflon, pvc,
laringoscópicos e outros)
Formaldeído, usado tanto na forma líquida ou
gasosa por 18 horas.
Paraformaldeído, as pastilhas tem ação esterilizante
na concentração de 3 gramas por 100 centímetros
cúbico de volume do recipiente onde o material
é esterilizado por um período de 4 horas a 50°C.
5.11- Outros, Ácido peracético
Ácido peracético, usado como desinfetante e
esterilizante para cateteres (portaria 15 de 23 de agosto
de 1988 do Ministério da Saúde), tem a vantagem que
ao se decompor origina ácido acético, água, oxigênio
e peróxido de hidrogênio. Em altas concentrações, o
ácido peracético, tem odor pungente e riscos de explosão
e incêndio. O mecanismo de ação é desnaturação
protéica, perda da permeabilidade da membrana
celular e oxidam o radical sulfidril e súlfur das proteínas,
enzimas e outro metabólitos.
O peróxido de hidrogênio é um agente químico
esterilizante tanto na sua forma líquida, gasosa e plasma,
inativa bactérias, vírus, bacilos da tuberculose,
fungos e alguns esporos. É um agente altamente
oxidante, tóxico, irritante em relação à pele e aos olhos.
Age produzindo radicais hidroxilas livres que atacam
a membrana lípidica do DNA e outros elementos da
célula microbiana.
Novas tecnologias vêm complementar os processos
físicos existentes, mas nunca a substituir e, em
todas elas, a eficácia da esterilização fica comprometida
na presença de sujidade nos materiais processados.

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